segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Novo teste determina a origem das meningites
Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR
26/09/2011 | 11h05 | Fiocruz


 


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Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estão próximos de encontrar uma forma definitiva de diagnóstico diferencial para os vários tipos de meningite a partir da identificação precisa dos agentes infecciosos que provocam a doença. O estudo, desenvolvido em parceria com o Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas, mede a concentração de duas proteínas – interleucinas 6 e 8 – no líquido que envolve o sistema nervoso (líquor) e estabelece qual delas aponta para a forma viral ou bacteriana da meningite, as mais frequentes no Brasil. A mais grave, a BACTERIANA, exibe uma taxa de 30% de mortalidade e afeta 45 indivíduos em cada grupo de 100 mil; a de origem viral, 11 em cada 100 mil. No mundo, cerca de 1,2 milhão de pessoas perdem a vida devido à enfermidade.

As interleucinas (Il 6 e Il8) que funcionam como marcadores de infecção já vêm sendo estudadas há algum tempo, e os especialistas sabem que elas estão presentes em situações de infecção. A novidade da pesquisa é que os infectologistas conseguiram investigar a atuação delas no líquor e medir o grau de concentração de cada uma. “O que nós fizemos foi testar um painel de diversas citocinas e perguntar se haveria algum padrão que pudesse ser facilmente diferenciado quando comparávamos infecções causadas por vírus e bactérias no sistema nervoso central”, explica Hugo Caire, coordenador do estudo pela Fiocruz. Uma das vantagens da pesquisa é que, fechado o ciclo de investigações, o Brasil poderá apresentar ao mundo o primeiro modelo de diagnóstico etiológico para a meningite.

Isso significa que muitos problemas com pacientes mal diagnosticados poderão ser evitados. “A principal consequência de não diagnosticar um caso de meningite bacteriana, por exemplo, é falhar ao instituir a terapia correta, o que pode levar o paciente à morte.” O médico explica que a pesquisa foi feita com 60 voluntários e precisa ser ampliada para dar mais segurança em seus resultados. “Monitoramos a atividade das interleucinas em todos os tipos de meningites e elas funcionam como marcadores para todos eles. A pesquisa, entretanto, verificou que a concentração da Il-8 é maior nos casos de meningite bacteriana”, conclui Caire.

Opções
Na Sociedade Paulista de Infectologia (SPI), a pesquisa foi analisada como mais uma alternativa de diagnóstico, que vem se juntar a outras de tradicional eficácia, como exames laboratoriais de cultura, contraimunoeletroforese (CIE), aglutinação pelo látex e identificação de genes específicos pela reação em cadeia de polimerase (PCR), considerado um dos mais precisos testes para identificar se um vírus ou uma bactéria causaram a doença. “A ideia da pesquisa é boa, mas ela precisa ser feita com um contingente maior de pacientes para assegurar um diagnóstico diferencial exato. É importante distinguir se a meningite é viral ou bacteriana para que seja feito o tratamento adequado”, afirma a presidente da instituição, a infectologista Rosana Ritchman.

A ideia dos pesquisadores da Fiocruz é exatamente essa e, em breve, uma nova etapa dos estudos vai medir a qualidade do teste em um contingente maior de pessoas. Nos casos de dúvida no diagnóstico etiólogico, o médico poderia pedir a dosagem das citocinas e observar o padrão obtido, explica Caire. De acordo com o especialista, “o teste ainda precisa ser validado pelo estudo de um número maior de pacientes de diferentes hospitais e regiões”, para que se possa confirmar sua utilidade e estabelecer seus limites com maior precisão.

Esse é um exame, segundo o coordenador da pesquisa, para identificar o agente etiológico em casos nos quais o diagnóstico, feito após testes de rotina, apresenta resultados dúbios ou pouco específicos. “Ele está sendo criado para casos que fogem do padrão estabelecido para a maioria dos pacientes. Ele não é um teste de triagem de grandes quantidades de pacientes, para situações nas quais um surto possa estar se desenvolvendo.” Ele explica também que se trata de um exame de alto custo e não deve entrar no rol dos testes de rotina: “Ele será usado em casos de dúvida médica, em que não é possível fazer o diagnóstico pelos parâmetros clínicos rotineiros”.

No Brasil, não há estatística epidemiológica sobre erros em diagnósticos, mas a recomendação dos especialistas é para — inclusive em caso de dúvida se o paciente tem a forma viral ou a bacteriana — aplicar antibióticos, mesmo que eles depois venham a ser retirados, no caso de pacientes com a forma viral. “O grande problema no Brasil é que temos poucos microbiologistas (quem faz a maioria dos testes) para o tamanho do país. Para melhorar o sistema, tem de haver mais investimentos em capacitação profissional e ampliar o acesso aos métodos diagnósticos já consagrados”, avalia Rosana Ritchman.


Segundo a médica, uma das maneiras mais eficazes de evitar a doença é a prevenção. “O Brasil tem uma boa cobertura vacinal e um dos programas de imunização mais eficientes do mundo”, diz Rosana.

A forma mais grave
A meningite BACTERIANA é muito mais grave que a viral. Vários estudos mostram uma mortalidade em torno de 25% a 30% dos casos, com 25% de sequelas neurológicas mesmo após a cura. Dos 22.106 casos confirmados de meningite bacteriana no Brasil em 2006, 2.578 (12%) morreram. O uso de antimicrobianos, desde a década de 1930, reduziu drasticamente esses índices. Recentemente, novos estudos mostraram que, além dos antibióticos, o uso de dexametasona, um tipo de corticosteroide, diminuiu o número de pacientes com sequelas da infecção, principalmente na causada por pneumococos.
Do Estado de Minas e Correio Braziliense

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